Me canta?


O sopro sem fôlego do teu saxofone, as cordas soltas da tua guitarra, o som esquisito da tua flauta, as teclas mais difíceis de tocar do teu piano, a vareta torta do teu violino e a sintonia bamba do teu trompete. Sou eu, sempre sem fôlego, toda solta e meio esquisita, querendo te tocar. Sou eu, ainda bamba, me desafinando nas tuas bandas.
No sopro do teu saxofone, eu posso ser um frevo? É que meus passos são muito apressados e meu ritmo de vida é muito acelerado.
Se você souber me tocar, eu faço um Siriá da tua boca, eu viro um Lundu no teu corpo e conto uns Carimbós salientes no teu ouvido. Eu faço já, já um Tcha tcha tcha na tua cama.
Vem cá vem, deixa eu transformar a tua vida num Samba do Criolo doido na Nona Sinfonia de Beethoven.
Deixa eu aprender teu instrumento de vida e saber da tua potência sonora. Deixa?
Me toca na tua guitarra e faz de mim um xote, um xaxado, um requebrado.
Toca teus dedos em mim, e faz de mim o teu piano. Antes de tocar Mozart, toca minha pele, pra eu sentir os teus timbres mais sacanas.
Sou tão difícil assim de orquestrar?
Então se compõe de mim, toca meu coração, que eu me afino de você.
Me canta?
Hulm, dôis, trêeeis e ih!
         

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